12 abril, 2005

Viagens: Travessia dos Andes pelo Paso de Jama

A entrada no Chile foi por Paso de Jama, a ligação com a Argentina que integra o Corredor Bioceânico Central – uma rota que cruza o continente desde os portos brasileiros no Oceano Atlântico, passa por Paraguai e Argentina até chegar aos portos chilenos no Pacífico.



Nossa travessia da Argentina para o Chile começou em Purmamarca, um povoado fundado no século XVII ao pé do Cerro de los Siete Colores, uma intrigante formação geológica matizada como um arco-íris. Na praça, rodeada por casas de tijolos de barro cru, as índias kollas vendem artesanato: peças de madeira de cardón (cactus), roupas de lã de lhama e alpaca.



Seguimos pela Ruta (rodovia) 52, que atravessa a Quebrada de Purmamarca, um vale muito estreito rodeado de montanhas de formas bizarras. É aí que começa a subida mais vertiginosa da viagem, pela Cuesta de Lipán.



Em poucos quilômetros passamos dos 2.200 metros de altitude para 4.170 metros no ponto chamado Abra de Potrerillos. Alí, apesar do sol forte do começo da tarde, as encostas estavam congeladas, com grandes blocos de gelo formando riachos que correm montanha abaixo.




Do alto, já se avista a longa faixa branca das Salinas Grandes. A estrada desce até 3.390 metros de altitude e cruza essa enorme jazida de sal, uma planície brilhante de mais de cem quilômetros de comprimento cercada de picos nevados. Logo na entrada, num ônibus velho transformado em casa, vivem dois ucranianos, pai e filho, que trabalham na extração do sal, feita com tratores. Leonid e Taras Kuzmin migraram de Odessa para a Argentina, fugindo do desemprego. O trabalho árduo e solitário no deserto salgado foi o único que encontraram.



O caminho sobe novamente pelas montanhas, até chegar a Susques – um amontoado de casas de barro que é o único ponto de abastecimento ao longo da estrada 52. É difícil encontrar o posto de combustíveis: também é uma construção de tijolos de barro, como a igreja e os armazéns.




Para todo lado que se olha, a vista é deslumbrante. Rebanhos de lhamas e guanacos cruzam a “puna”, o árido planalto andino, iluminado pelo sol poente. Subimos mais um pouco, para 3.975 metros, beirando precipícios ao longo das “quebradas”. Apesar de já termos experimentado a altitude dos quatro mil metros, os efeitos começam a se manifestar. Ao parar no posto de fronteira, estamos meio tontos, “mareados”, como se diz por aqui.



Cruzamos a fronteira deserta no Paso de Jama, a 4.230 metros, já no escuro e com muito frio. À noite, segundo os policiais da fronteira, a temperatura cai até 15 graus negativos. Começa aí outro trecho vertiginoso da viagem: uma descida constante e íngreme até San Pedro de Atacama, a mais de 2 mil metros abaixo. A cidade, estranhíssima para quem chega à noite, é um importante destino turístico chileno e fica junto ao sopé do imponente Lincancábur, um cone nevado que domina o vale a 5916 metros sobre o nível do mar. (agosto 2001)

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