06 abril, 2005

Viagens: Múmias mais antigas estão no Chile



A aridez do Deserto de Atacama ajudou a preservar parte dos hábitos dos primeiros povos que habitaram o que hoje é o norte do Chile. Foi a extrema secura do clima que permitiu que hoje sejam conhecidas as mais antigas múmias já encontradas. As chamadas múmias negras eram a forma de sepultar os mortos adotada pelos pescadores que viveram no litoral central da América do Sul entre 6.000 e 2.000 anos a.C.

Classificados como Tradição Chinchorro, estes primeiros habitantes da costa chilena se dedicavam à caça, à pesca e à coleta marinha. Viviam em pequenos bandos, ocupando acampamentos semi-estáveis ao longo do litoral. As casas, circulares, tinham pisos de pedra e tetos com armação de madeira de cactus cobertos com peles de lobos marinhos e algas.



Apesar da organização primária, em torno da coleta, tinham rituais complexos e sofisticados de sepultamento dos mortos, que incluíam a mumificação artificial. Em algumas aldeias, foram encontradas tumbas coletivas com os mortos enterrados em posiçao horizontal sob as casas.

A mumificação era feita de duas formas principais. Na primeira, retiravam os órgãos internos, secavam as cavidades com fogo ou cinza e preenchiam com fibras vegetais, restos de peles de animais e uma mistura de resina e cinzas. Depois de cheios, abdômen e tórax eram costurados. Os membros eram desarticulados e depois reforçados com madeiras. Na outra forma de mumificação, os membros também recebiam reforço de paus e amarras de fibras. A diferença é que os corpos eram tratados para eliminar completamente os tecidos moles, até se conseguir um esqueleto limpo. O tronco e os membros eram envolvidos separadamente com esteiras de fibras vegetais. O rosto e o corpo recebiam uma capa de argila que modelava a figura do indivíduo, indicando claramente o sexo. O passo final era a recolocação da pele, lustrada com óxidos de manganês, que dá a cor preta às múmias. Algumas múmias recebiam tratamento com óxido de ferro, de cor vermelha.



A tradição de mumificar os mortos dura até aproximadamente o ano 2.000 a.C. Nessa época, é provável que os pescadores do litoral tenham intensificado os contatos com os povos do interior, que viviam da agricultura e da pecuária e eram tecnologicamente mais desenvolvidos. O impacto cultural deve ter sido muito forte a ponto de alterar os hábitos de sepultamento, os mais arraigados dos povos. A partir daí conservam-se apenas as máscaras de barro e a posição estendida do corpo que depois é substituída pelo sepultamento de cócoras, típico dos povos altiplânicos.

As múmias dos primeiros povoadores são hoje estudadas e preservadas nos museus do Norte Chileno. Os mais importantes são o Museu Arqueológico San Miguel de Azapa, da Universidade de Tarapacá, em Arica; o Museu Regional de Iquique e o Museu Arqueológico Gustavo Le Paige, da Universidade Católica do Norte, em San Pedro de Atacama. (agosto 2001)

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