
Cusco, antiga capital do império Inca, chamada pelos indígenas de “umbigo do mundo”, pode ser vista hoje como uma síntese da ocupação humana na região, congregando traços dos incas e dos conquistadores espanhóis ao modo de vida atual.

O que mais atrai turistas a Cusco é a possibilidade de conhecer Machu Picchu, aonde se chega de trem, numa fantástica viagem de quatro horas atravessando paisagens maravilhosas. O trem sai todos os dias de Cusco, lotado de turistas americanos, alemães, italianos, franceses, israelenses.

O ponto final é Águas Calientes, às margens do rio Urubamba, onde se toma um microônibus para vencer os 600 metros verticais de subida até a misteriosa cidade de pedra. Lá em cima, no topo dos montes de encostas abruptas e por muito tempo quase inacessíveis, a impressão é indescritível.Os espanhóis não deixaram registro de que tenham conhecido Machu Picchu. A cidade permanceu escondida até ser encontrada pelo explorador americano Hiram Bigham, em 1911. São muitas as teorias sobre a função da cidade – universidade da elite inca, lar de sacerdotisas dedicadas a domesticar plantas alimentícias, medicinais e mágicas – mas a verdade permanece encerrada entre as paredes de pedra e os terraços gramados espalhados sobre morros cercados de paredões magníficos.

A tese sobre as sacerdotisas botânicas ganha força quando se conhece um pouco mais das tradições dos povos andinos. Entre elas está a fitolatria, a adoração das plantas, que tem um sentido mágico na vida das pessoas. Quem me falou sobre a relação do andino com a natureza foi a Doutora Rosa Urrunaga, etnobotânica e presidente do Instituto de Medicina Tradicional. Apaixonada pelo assunto, ela me levou até o mercado de Cusco, onde conheci diversas plantas mágicas, como os winkikis, que servem para atrair a pessoa desejada, as folhas de coca bipartidas, que dão sorte e as tripartidas, que servem para causar o mal.

Na adoração do andino pelas plantas, a folha de coca ocupa um lugar especial. Ela é usada para ler o passado, o presente e o futuro e é o principal ingrediente do samincha, também conhecido como despacho ou pago a la tierra, ritual dedicado a natureza que serve para buscar o equilíbrio com o ambiente, muito importante numa região de recursos escassos como os Andes. É bom ressaltar que a medicina tradicional andina se ocupa não só dos males do corpo, mas também da alma.

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