Full Mix
Relatos de viagens com um olhar atento para a paisagem, a cultura e a história.
15 dezembro, 2010
12 abril, 2005
Viagens: Antofagasta, onde o Chile foi Bolívia

Antofagasta, espremida entre as montanhas e o mar, fica na região conquistada pelo Chile em 1879 na Guerra do Pacífico, que cortou a saída boliviana para o Pacífico e levou a fronteira chilena até o Peru.

O nome vem do quíchua e significaria Vila do Grande Salar. Nesta parte do país, o clima desértico domina, desde as altitudes da cordilheira até o nível do mar. A água é escassa e tem de ser trazida de uma distância de 400 km. É impossível plantar e quase todo abastecimento da cidade vem do sul, que é fértil.
A falta de frutos da terra é compensada pela abundância da vida no mar. Junto ao centro histórico de Antofagasta fica o mercado dos pescadores, que assombra pela fartura e diversidade. Nas bancas, os vendedores anunciam: cojinovas, dorados, albacoras, reynetas, cabrillas.

E muitos frutos do mar: luche , uma alga que se come com batatas; loco, um caracol vendido às claras, apesar de estarmos em plena época de resguardo; jaivas, caranguejos parecidos com siri; piure, um molusco rico em iodo que se come cru, temperado com cebola e limão. Também cru e temperado com limão é o cebiche, prato típico da região com peixes e mariscos.

Tudo pode ser comido ali mesmo no mercado, muito fresco e preparado na hora. Um mariscal sortido, mariscada variada, custa 2.500 pesos, menos de dez reais.
A economia da região gira em torno da mineração: fica aqui a maior mina de cobre a céu aberto do mundo, a de Chuquicamata, que ocupa uma área de 20 quilômetros quadrados. A mina está situada a 2800 metros de altitude, em pleno deserto de Atacama e é explorada pela Corporación Nacional de Cobre de Chile, empresa estatal que faz desde a extração até o refino do cobre.



A produção de Chuquicamata e de muitas outras minas da região é exportada através do Porto de Antofagasta e desce de trem das alturas do planalto até o nível do mar. A estrada de ferro que sai do porto segue em direção à Bolívia e chega ao Brasil em Corumbá, no Mato Grosso do Sul.

Os trilhos que cortam a cidade de Antofagasta estão ligados aos que atravessam o centro de Campo Grande, capital do estado. (agosto 2001)
Viagens: Travessia dos Andes pelo Paso de Jama
A entrada no Chile foi por Paso de Jama, a ligação com a Argentina que integra o Corredor Bioceânico Central – uma rota que cruza o continente desde os portos brasileiros no Oceano Atlântico, passa por Paraguai e Argentina até chegar aos portos chilenos no Pacífico.

Nossa travessia da Argentina para o Chile começou em Purmamarca, um povoado fundado no século XVII ao pé do Cerro de los Siete Colores, uma intrigante formação geológica matizada como um arco-íris. Na praça, rodeada por casas de tijolos de barro cru, as índias kollas vendem artesanato: peças de madeira de cardón (cactus), roupas de lã de lhama e alpaca.

Seguimos pela Ruta (rodovia) 52, que atravessa a Quebrada de Purmamarca, um vale muito estreito rodeado de montanhas de formas bizarras. É aí que começa a subida mais vertiginosa da viagem, pela Cuesta de Lipán.

Em poucos quilômetros passamos dos 2.200 metros de altitude para 4.170 metros no ponto chamado Abra de Potrerillos. Alí, apesar do sol forte do começo da tarde, as encostas estavam congeladas, com grandes blocos de gelo formando riachos que correm montanha abaixo.

Do alto, já se avista a longa faixa branca das Salinas Grandes. A estrada desce até 3.390 metros de altitude e cruza essa enorme jazida de sal, uma planície brilhante de mais de cem quilômetros de comprimento cercada de picos nevados. Logo na entrada, num ônibus velho transformado em casa, vivem dois ucranianos, pai e filho, que trabalham na extração do sal, feita com tratores. Leonid e Taras Kuzmin migraram de Odessa para a Argentina, fugindo do desemprego. O trabalho árduo e solitário no deserto salgado foi o único que encontraram.

O caminho sobe novamente pelas montanhas, até chegar a Susques – um amontoado de casas de barro que é o único ponto de abastecimento ao longo da estrada 52. É difícil encontrar o posto de combustíveis: também é uma construção de tijolos de barro, como a igreja e os armazéns.
Para todo lado que se olha, a vista é deslumbrante. Rebanhos de lhamas e guanacos cruzam a “puna”, o árido planalto andino, iluminado pelo sol poente. Subimos mais um pouco, para 3.975 metros, beirando precipícios ao longo das “quebradas”. Apesar de já termos experimentado a altitude dos quatro mil metros, os efeitos começam a se manifestar. Ao parar no posto de fronteira, estamos meio tontos, “mareados”, como se diz por aqui.

Cruzamos a fronteira deserta no Paso de Jama, a 4.230 metros, já no escuro e com muito frio. À noite, segundo os policiais da fronteira, a temperatura cai até 15 graus negativos. Começa aí outro trecho vertiginoso da viagem: uma descida constante e íngreme até San Pedro de Atacama, a mais de 2 mil metros abaixo. A cidade, estranhíssima para quem chega à noite, é um importante destino turístico chileno e fica junto ao sopé do imponente Lincancábur, um cone nevado que domina o vale a 5916 metros sobre o nível do mar. (agosto 2001)

Nossa travessia da Argentina para o Chile começou em Purmamarca, um povoado fundado no século XVII ao pé do Cerro de los Siete Colores, uma intrigante formação geológica matizada como um arco-íris. Na praça, rodeada por casas de tijolos de barro cru, as índias kollas vendem artesanato: peças de madeira de cardón (cactus), roupas de lã de lhama e alpaca.

Seguimos pela Ruta (rodovia) 52, que atravessa a Quebrada de Purmamarca, um vale muito estreito rodeado de montanhas de formas bizarras. É aí que começa a subida mais vertiginosa da viagem, pela Cuesta de Lipán.

Em poucos quilômetros passamos dos 2.200 metros de altitude para 4.170 metros no ponto chamado Abra de Potrerillos. Alí, apesar do sol forte do começo da tarde, as encostas estavam congeladas, com grandes blocos de gelo formando riachos que correm montanha abaixo.

Do alto, já se avista a longa faixa branca das Salinas Grandes. A estrada desce até 3.390 metros de altitude e cruza essa enorme jazida de sal, uma planície brilhante de mais de cem quilômetros de comprimento cercada de picos nevados. Logo na entrada, num ônibus velho transformado em casa, vivem dois ucranianos, pai e filho, que trabalham na extração do sal, feita com tratores. Leonid e Taras Kuzmin migraram de Odessa para a Argentina, fugindo do desemprego. O trabalho árduo e solitário no deserto salgado foi o único que encontraram.

O caminho sobe novamente pelas montanhas, até chegar a Susques – um amontoado de casas de barro que é o único ponto de abastecimento ao longo da estrada 52. É difícil encontrar o posto de combustíveis: também é uma construção de tijolos de barro, como a igreja e os armazéns.
Para todo lado que se olha, a vista é deslumbrante. Rebanhos de lhamas e guanacos cruzam a “puna”, o árido planalto andino, iluminado pelo sol poente. Subimos mais um pouco, para 3.975 metros, beirando precipícios ao longo das “quebradas”. Apesar de já termos experimentado a altitude dos quatro mil metros, os efeitos começam a se manifestar. Ao parar no posto de fronteira, estamos meio tontos, “mareados”, como se diz por aqui.

Cruzamos a fronteira deserta no Paso de Jama, a 4.230 metros, já no escuro e com muito frio. À noite, segundo os policiais da fronteira, a temperatura cai até 15 graus negativos. Começa aí outro trecho vertiginoso da viagem: uma descida constante e íngreme até San Pedro de Atacama, a mais de 2 mil metros abaixo. A cidade, estranhíssima para quem chega à noite, é um importante destino turístico chileno e fica junto ao sopé do imponente Lincancábur, um cone nevado que domina o vale a 5916 metros sobre o nível do mar. (agosto 2001)

07 abril, 2005
Viagens: Cusco, de umbigo do mundo a centro de turismo internacional

Cusco, antiga capital do império Inca, chamada pelos indígenas de “umbigo do mundo”, pode ser vista hoje como uma síntese da ocupação humana na região, congregando traços dos incas e dos conquistadores espanhóis ao modo de vida atual.

O que mais atrai turistas a Cusco é a possibilidade de conhecer Machu Picchu, aonde se chega de trem, numa fantástica viagem de quatro horas atravessando paisagens maravilhosas. O trem sai todos os dias de Cusco, lotado de turistas americanos, alemães, italianos, franceses, israelenses.

O ponto final é Águas Calientes, às margens do rio Urubamba, onde se toma um microônibus para vencer os 600 metros verticais de subida até a misteriosa cidade de pedra. Lá em cima, no topo dos montes de encostas abruptas e por muito tempo quase inacessíveis, a impressão é indescritível.Os espanhóis não deixaram registro de que tenham conhecido Machu Picchu. A cidade permanceu escondida até ser encontrada pelo explorador americano Hiram Bigham, em 1911. São muitas as teorias sobre a função da cidade – universidade da elite inca, lar de sacerdotisas dedicadas a domesticar plantas alimentícias, medicinais e mágicas – mas a verdade permanece encerrada entre as paredes de pedra e os terraços gramados espalhados sobre morros cercados de paredões magníficos.

A tese sobre as sacerdotisas botânicas ganha força quando se conhece um pouco mais das tradições dos povos andinos. Entre elas está a fitolatria, a adoração das plantas, que tem um sentido mágico na vida das pessoas. Quem me falou sobre a relação do andino com a natureza foi a Doutora Rosa Urrunaga, etnobotânica e presidente do Instituto de Medicina Tradicional. Apaixonada pelo assunto, ela me levou até o mercado de Cusco, onde conheci diversas plantas mágicas, como os winkikis, que servem para atrair a pessoa desejada, as folhas de coca bipartidas, que dão sorte e as tripartidas, que servem para causar o mal.

Na adoração do andino pelas plantas, a folha de coca ocupa um lugar especial. Ela é usada para ler o passado, o presente e o futuro e é o principal ingrediente do samincha, também conhecido como despacho ou pago a la tierra, ritual dedicado a natureza que serve para buscar o equilíbrio com o ambiente, muito importante numa região de recursos escassos como os Andes. É bom ressaltar que a medicina tradicional andina se ocupa não só dos males do corpo, mas também da alma.

06 abril, 2005
Viagens: Um trem vai às nuvens

Uma importante rota de comércio e uma atração turística impressionante, com paisagens deslumbrantes e trechos de tirar, mesmo, o fôlego. Assim é o Tren a las Nubes, o Trem das Nuvens, que cruza a Província de Salta, norte da Argentina.
Subindo a Cordilheira dos Andes e ligando Salta ao porto de Antofagasta, no Chile, o Trem das Nuvens é o terceiro mais alto do mundo e o único a transpor a altitude de 4400 metros sem o uso do sistema de cremalheira. Um orgulho da engenharia argentina, a estrada de ferro sai da estação de Salta, a 1187 metros de altitude e sobe até a “puna” – o planalto andino - com o uso de sistemas engenhosos para vencer os obstáculos. Além de túneis e viadutos, o engenheiro Richard Maury lançou mão de artifícios como o zigue e zague, onde a composição ganha altitude avançando para frente e para trás em ramais paralelos de trilhos. Em alguns trechos, a estrada de ferro passa sobre o próprio traçado, fazendo os chamados rolos, com a ajuda de túneis e pontes.

O Trem das Nuvens foi construído para levar os produtos do norte argentino até o Oceano Pacífico, mas hoje é uma das atrações turísticas mais importantes de Salta, com saídas todos os sábados. A viagem de ida e volta até o viaduto La Polvorilla – ponto culminante do passeio, a 4220 m de altitude – dura quatorze horas. O trem, com vagão restaurante e bar, sai da estação às 7h05, ainda escuro nesta época do ano e só chega de volta às nove da noite.
No percurso, o viajante cruza a bonita Quebrada del Toro, o vale do Rio Toro, palavra derivada da língua indígena Quíchua que descreve a cor escura e o aspecto barrento das águas que descem das montanhas.

Depois dos três mil metros de altitude, até os cactos desaparecem e o planalto é seco, coberto de moitas de plantas rasteiras como a palla brava e a muña muña conhecida como o Viagra andino, por causa dos poderes afrodisíacos. Ao longo do caminho, dá pra ver das janelas rebanhos de lhamas e jumentos pastando perto dos currais de pedra e das casas de barro dos habitantes da região. Ao longe se avistam picos cobertos de neve como o do Nevado Chani.

Enquanto vai subindo, o viajante começa a sentir os efeitos da altitude: dor de cabeça, tonturas e um pouco de fadiga. Mas não é nada muito incômodo e os saltenhos recomendam ir mascando folhas de coca para equilibrar a pressão e evitar o desconforto.

Depois de chegar ao viaduto La Polvorilla, de 63 m de altura e 224 m de comprimento, o Trem das Nuvens começa a voltar até a cidade de San Antonio de los Cobres, pouco mais do que um povoado plantado a 3774 metros de altitude em meio à fantástica amplidão do planalto andino. Durante a parada, o turista tem a chance de conhecer o artesanato do povo Kolla, que vive na punã: são xales, coletes, cachecóis, luvas e meias de lã de lhama. As crianças carregam cordeirinhos para tirar fotos e “llamitas” – miniaturas de lhama feitas de lã. Depois das compras e de uma cerimônia de Pachamama, de oferendas à mãe terra, o trem retoma o caminho até Salta. (agosto 2001)
Viagens: Múmias mais antigas estão no Chile

A aridez do Deserto de Atacama ajudou a preservar parte dos hábitos dos primeiros povos que habitaram o que hoje é o norte do Chile. Foi a extrema secura do clima que permitiu que hoje sejam conhecidas as mais antigas múmias já encontradas. As chamadas múmias negras eram a forma de sepultar os mortos adotada pelos pescadores que viveram no litoral central da América do Sul entre 6.000 e 2.000 anos a.C.
Classificados como Tradição Chinchorro, estes primeiros habitantes da costa chilena se dedicavam à caça, à pesca e à coleta marinha. Viviam em pequenos bandos, ocupando acampamentos semi-estáveis ao longo do litoral. As casas, circulares, tinham pisos de pedra e tetos com armação de madeira de cactus cobertos com peles de lobos marinhos e algas.

Apesar da organização primária, em torno da coleta, tinham rituais complexos e sofisticados de sepultamento dos mortos, que incluíam a mumificação artificial. Em algumas aldeias, foram encontradas tumbas coletivas com os mortos enterrados em posiçao horizontal sob as casas.
A mumificação era feita de duas formas principais. Na primeira, retiravam os órgãos internos, secavam as cavidades com fogo ou cinza e preenchiam com fibras vegetais, restos de peles de animais e uma mistura de resina e cinzas. Depois de cheios, abdômen e tórax eram costurados. Os membros eram desarticulados e depois reforçados com madeiras. Na outra forma de mumificação, os membros também recebiam reforço de paus e amarras de fibras. A diferença é que os corpos eram tratados para eliminar completamente os tecidos moles, até se conseguir um esqueleto limpo. O tronco e os membros eram envolvidos separadamente com esteiras de fibras vegetais. O rosto e o corpo recebiam uma capa de argila que modelava a figura do indivíduo, indicando claramente o sexo. O passo final era a recolocação da pele, lustrada com óxidos de manganês, que dá a cor preta às múmias. Algumas múmias recebiam tratamento com óxido de ferro, de cor vermelha.

A tradição de mumificar os mortos dura até aproximadamente o ano 2.000 a.C. Nessa época, é provável que os pescadores do litoral tenham intensificado os contatos com os povos do interior, que viviam da agricultura e da pecuária e eram tecnologicamente mais desenvolvidos. O impacto cultural deve ter sido muito forte a ponto de alterar os hábitos de sepultamento, os mais arraigados dos povos. A partir daí conservam-se apenas as máscaras de barro e a posição estendida do corpo que depois é substituída pelo sepultamento de cócoras, típico dos povos altiplânicos.
As múmias dos primeiros povoadores são hoje estudadas e preservadas nos museus do Norte Chileno. Os mais importantes são o Museu Arqueológico San Miguel de Azapa, da Universidade de Tarapacá, em Arica; o Museu Regional de Iquique e o Museu Arqueológico Gustavo Le Paige, da Universidade Católica do Norte, em San Pedro de Atacama. (agosto 2001)
Viagens: Uros – a vida em ilhas flutuantes

O junco totora, que cresce nas águas do Titicaca, a 3800 metros de altitude, é muito usado para cobrir o teto das casas feitas de adobe dos descendentes dos aymaras, que povoam as margens do lago, tanto da lado peruano quanto do boliviano. Mas em Uros – um arquipélago ao largo da cidade de peruana de Puno – o totora é mais, é a própria vida.

Pescadores, os habitantes de Uros vivem sobre ilhas flutuantes feitas de totora, um costume que vem de longe, de cerca de 2500 anos a.C. Situadas em uma região onde o lago tem de 35 a 40 metros de profundidade, as ilhas têm uns dois metros de espessura e precisam ser renovadas constantemente. De quinze em quinze dias é preciso colocar mais junco sobre a superfície, a medida que as camadas inferiores de totora apodrecem e afundam.

Além das ilhas, as casas e os barcos também são feitas de totora, embora, hoje, existam telhados de zinco e botes de madeira. Leva mais ou menos um mês para fazer uma balsa, como são chamados os barcos de junco. O trabalho é feito nas horas mais frescas do dia, para facilitar o manuseio do totora, que é tramado em rolos apertados com cordas. As balsas são manejadas por um remo à popa ou por um varejão, nas partes rasas do lago. Depois de uns dez meses, ao fim da vida útil, as balsas são agregadas as ilhas, para aumentá-las de tamanho.

Mais do que casa e meio de transporte, o totora também serve de alimento. A raiz é comestível e faz parte da dieta dos aimarás. Atualmente, o peixe anda escasso e o turismo é parte importante da sobrevivência em Uros. Barcos partem do porto de Puno levando turistas para conhecer as ilhas flutuantes e os moradores esperam por eles para vender artesanato, fazer passeios nas balsas de totora, posar para fotos – qualquer coisa que dê algum dinheiro e ajude a sobreviver às dificuldades do cotidiano no século XXI. (agosto 2001)
Viagens: Uma cidade movida a pedal

Juliaca, perto do Lago Titicaca, no sul do Peru, vive sobre três rodas. O transporte coletivo é precário e, para se locomover pela cidade, a população apela para os tricitáxis. São curiosos triciclos movidos a pedal que lembram muito os riquixás do oriente. Têm assento para duas pessoas – mas vimos um levando sete, dois adultos e cinco crianças – coberto com um teto de lona. Carregam de tudo, de gente a carga: bacias, sacos de farinha, ovelhas, cachos de banana.


Todos os tricitaxistas com que conversamos eram donos dos veículos. E tiveram de dar duro para comprar o instrumento de trabalho. Cada triciclo – fabricado ali mesmo, em Juliaca - custa de 800 a 1000 soles. Outra dificuldade: não dá pra trabalhar todo o ano. Na época de chuvas, de abril a julho, muitos param. Alguns insistem e trabalham cobertos por plásticos.
Embora possam ser encontrados em outras cidades peruanas, Juliaca é a capital dos tricitáxis. Ninguém sabe ao certo quantos são, fala-se em 50 mil, quase um para cada quatro moradores da cidade. Com tal quantidade de triciclos nas ruas, dá pra imaginar a confusão no trânsito. Dirigir por Juliaca é um teste para qualquer motorista. Os tricitáxis surgem inesperadamente de todos os lados, se colocam no caminho do carro e buzinam, buzinam muito.

Além dos táxis movidos a pedal, Juliaca tem também triciclos adaptados de motos – parecidos com as antigas romisetas. Mas a concorrência não é com os mototáxis, os esforçados ciclistas disputam passageiros com as lotações, o meio de transporte coletivo mais comum no Peru. No trânsito, essa disputa se traduz em fechadas e outras manobras arriscadas feitas em conjunto pelos pilotos de tricitáxis – que combatem solidariamente o concorrente motorizado.
(agosto 2001)
Viagens: Ciclo do Salitre no norte chileno






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